Está tudo junto e misturado no Festival Visões Periféricas 2010. O audiovisual, a educação e as novas tecnologias se mesclam para exibir, mais uma vez, um painel diversificado de expressões culturais das múltiplas periferias brasileiras. O Visões Periféricas foi o primeiro festival do Estado do Rio de Janeiro a dedicar-se exclusivamente a filmes produzidos em projetos de educação e audiovisual. A Mostra Visorama, que deu origem ao projeto, é reflexo desse pioneirismo. Em 2009, o festival se expandiu englobando um panorama de filmes feitos em projetos de países da região ibero-americana. Desde então, o evento vem mantendo o espírito pioneiro e a preocupação de acompanhar o desenvolvimento desses projetos, de seus realizadores e contextos sociais.
No meio do caminho fomos percebendo que as periferias brasileiras começavam a integrar de maneira forte ao seu cotidiano as diversas tecnologias de comunicação digital, como os celulares, ipods, câmeras fotográficas, internet. Embora a banda larga ainda não seja uma realidade na grande maioria dos lares brasileiros, a explosão de
lan-houses permitiu a entrada de milhares de pessoas no mundo virtual. As redes sociais se multiplicaram em ordem geométrica tornando um hábito a produção audiovisual através de pequenos aparelhos móveis. É uma nova forma de fazer e exibir audiovisual. Muito mais acessível, democrática e com poder de renovar a linguagem. Desde 2009, o Visões Periféricas também se dedica a estimular essa produção através da mostra “Tudojuntoemisturado” que acontece exclusivamente no site do festival.
Essa explosão da comunicação aliada ao espírito libertário que está na origem da internet provocou toda uma onda de produções que tem no reaproveitamento de material disponível na web o seu principal eixo criativo. Não é novidade, na história do cinema, a reutilização de material produzido por terceiros, mas a internet radicalizou essa capacidade de espalhar, misturar e ressignificar criações de diversas origens. Antenados com esse movimento, a edição de 2010 realiza pela primeira vez no Brasil a mostra Imagens Remix, que para nós agrega às periferias do Visões Periféricas um sentido a mais de liberdade de pensamento e criação. É algo que está presente em larga escala em muitas das produções culturais de periferia, como é o caso do
funk nas favelas cariocas e o
tecnobrega nas periferias de Belém do Pará. Essa potência da mistura que a tecnologia traz tem tudo a ver com o Brasil, país notoriamente conhecido por abrigar uma diversidade de culturas que se misturam.
Tão importante quanto exibir filmes, o Visões Periféricas considera fundamental a criação de uma rede entre seus realizadores. Neste ano, o festival traz os diretores dos filmes para debaterem com o público. A mostra Fronteiras Imaginárias se firma nesta quarta edição como um espaço de encontro e troca entre realizadores das diversas realidades brasileiras e abre espaço para qualquer produtor independente mostrar a sua visão periférica.
Em 2010 assim como acontece todos os anos, o festival se espalha pela cidade em parceria com Circuito Cineclubista Ascine-RJ (Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro), fazendo exibição em 11 pontos da cidade, além de Ipanema. As comunidades também não poderiam ficar de fora dessa mistura e por isso o festival também promove exibições no Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Ladeira dos Tabajaras, Morro dos Cabritos, Babilônia e Chapéu Mangueira.
O Visões Periféricas acredita que o poder da criação está na coragem de expressar aquilo que mais ninguém é capaz porque é intransferível. É o que nos faz seres únicos e insubstituíveis. Quando essa coragem resulta em uma obra de arte, esta torna-se capaz de atingir o coletivo, pois não há nada mais humano do que a própria singularidade. E esse poder da criação deve ser um direito de todos. Consideramos uma missão ampliar a possibilidade de criação e expressão, seja por qualquer linguagem. E é nessa perspectiva que pretendemos sempre contribuir para a quebra dos muros e a mistura de pessoas. Bem-vindos ao Visões Periféricas 2010!
Marcio Blanco e Karine Mueller
Coordenação Festival Visões Periféricas