Visões Periféricas - Festival


Homenagem 2014

Léa Garcia, nossa homenageada 

Léa Garcia é considerada junto com Ruth de Souza, Chica Xavier e Zezé Motta uma das damas negras da dramaturgia nacional. Léa tem uma extensa trajetória nas artes cênicas do país, uma carreira de 65 anos que tem início no Teatro Experimental do Negro junto a Abdias do Nascimento. A parceria com Abdias forjou em Léa a consciência política e social de seu trabalho como atriz. Não é demais lembrar que em 1969 um ator branco se pinta de negro para interpretar o papel principal na novela “A Cabana do Pai Tomás”, o que causou polêmica na época. 
 
Léa estreia no cinema em 1959 com a personagem Serafina no filme “Orfeu Negro” de Marcel Camus, baseado na obra de Vinícius de Morais, pelo qual é indicada ao prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. Fez ainda muitos trabalhos sempre interpretando personagens femininos fortes. Em 2004 ganha seu primeiro Kikito por sua interpretação em “Filhas do Vento” .

Na televisão atuou em mais de 20 novelas. Léa costuma lembrar em entrevistas uma cena da novela Marina (1980) onde ela interpreta Leila uma professora de história que leciona em uma escola onde sua filha era a única aluna negra. A menina sofre preconceito por parte dos demais alunos e Leila resolve dar uma aula sobre o Quilombo dos Palmares para a filha. Como não se sentiu satisfeita com a visão do roteiro sobre Zumbi, Léa resolve intervir junto ao diretor e consegue modificar o texto.  Mesmo com sua postura questionadora sobre o papel do negro na teledramaturgia brasileira Léa costuma dizer que o seu trabalho como atriz sempre foi o mais importante porque através dele ela poderia fazer várias denúncias.

No filme “Acalanto” que abre o festival neste ano Léa faz o papel de uma senhora analfabeta que busca amenizar a saudade do seu filho ao solicitar a um conhecido para que leia diversas vezes a mesma velha e única carta enviada há dez anos por seu filho. Através dessas leituras, uma bonita amizade e cumplicidade é criada entre os dois.  Por esse papel Léa ganhou seu segundo Kikito como atriz em 2013.  Acalanto é uma história sobre o tempo, esse que é considerado um Orixá no candomblé brasileiro. Aos 81 anos Léa afirma não sentir o peso do tempo em sua vida e sente-se mesmo surpresa com sua passagem.  Cheia de planos, roteiros para dirigir, filme pronto por lançar, Léa parece querer dizer com seu riso aberto que o tempo não a assusta. É seu companheiro, aquele dá forma às histórias que conta, mas que também transforma quando o coração deseja.




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